quinta-feira, 18 de julho de 2013

Orientação à família de crianças com gagueira

Quais são as orientações para as famílias de crianças que gaguejam?
 
Orientações sobre o que fazer para auxiliar o aumento da fluência da criança.
 
 
 
 
a.  Ser “todo ouvidos”.
 
            Isto significa aprender COMO ouvir e REAGIR à criança, tentar compreender as entrelinhas, identificar as situações que exigem audição intensa e imediata.  Ouvir é uma parte essencial da comunicação e deve ser agradável e recompensador.
 
 
 
 b. “Falar com” ao invés de “falar para”
 
            “Falar com é diferente do que falar para.  Significa ouvir mais e mandar menos, ter tolerância, promover modelo adequado de fala, experiências agradáveis de comunicação, auxiliar a criança a expressar seus sentimentos.
 
 
 
c.   Usar a comunicação não-verbal
 
            Expressar apoio, usar padrão vocal afetuoso, ter proximidade, demonstrar afeto e compreensão. Tocar a criança, acolhê-la.       Procurar controlar as “caras e bocas”, mesmo que sejam feitas não intencionalmente.
 
 
 
d.   Diminuir a pressão do tempo na comunicação
 
            Mostrar ao invés de dizer ou mandar, falar mais devagar com a criança, dar-lhe tempo, não interromper, esperar dois segundos antes de responder ou perguntar alguma coisa.
 
 
 
e.  Revisar o estilo de vida
 
            Se a vida familiar está muito agitada, compromissada, procurar rever onde poderiam acontecer algumas pequenas mudanças que permitam um pouco mais de flexibilidade. Excesso de regras e compromissos não facilitam a comunicação, especialmente  a  de uma criança que gagueja. No entanto, é preciso distinguir entre flexibilidade, rigidez e disciplina. Flexibilidade e rigidez se contrapõem, já a disciplina permite o uso de regras decididas coletivamente e que organizam a criança. Zebrowski(10) diz que na disciplina, a estrutura reduz a ansiedade, a consistência permite a  previsibilidade; já a inconsistência aumenta comportamentos de  evitação.
 
 
 
f.  Aceitação de um filho que  gagueja
 
            Procurar entender as diferenças individuais da fala, aumentar a tolerância, expressar aceitação, descrever os comportamentos ao invés de rotulá-los. Conversar com a criança que a boca às vezes “tranca”, orientando-a direta e calmamente,    evitando de dizer “pare”, “respira”, ”fala devagar”, pedir para parar e começar de novo, etc. Tentar reduzir os medos e as frustrações com a fala disfluente para mostrar à criança como lidar com estes sentimentos.
 
 
 
g.  Não repreender, ridicularizar ou expor a criança, não ameaçá-la com injeções, monstros, castigos, não mandar parar de gaguejar. Não é recomendado “ajudar” a criança completando suas falas, falando ou usando o telefone por ela nem  estimulá-la a substituir palavras gaguejadas por palavras fluentes. Substituir palavras é considerado um insucesso. Aumenta muito o nível de preocupação pelo vocabulário e não diminui a gagueira. É um comportamento de evitação que deve ser desestimulado.
 
 
 
 h. É recomendado agir com a criança de forma consistente, independente de ela estar ou não fluente, mostrar que a conversa é prazerosa, mostrar interesse mantendo contato visual. Garantir-lhe que há tempo para escutar o que ela tem a dizer, ou pedir-lhe para aguardar um pouco até poder se dar atenção integral ao que ela diz. Isto ajuda a dar limite à criança. O fato de se ser compreensivo com ela por causa da gagueira não significa que todos têm que parar tudo para ouvi-la. Ela também precisa aprender a esperar a sua vez de falar e de ser ouvida. Quando se reforça  que há tempo para ouvi-la, ela pode compreender que não precisa falar rápido. É uma forma mais sutil de estimulá-la a falar mais devagar sem precisar ficar dizendo isto a todo o momento.
 
 
 
i.  O  que fazer quando a criança mostra muita frustração por não falar fluente?
 
 
 
            Primeiro, reconhecer os momentos de  dificuldade fazendo calmamente algum comentário que mostre que a gagueira foi percebida.  Isto passa para ela a impressão de que o assunto não é tabu, que se pode falar sobre ele sem problemas. Não é fazer críticas nem recriminar a criança pela sua fala. Segundo, se a criança reclamar que não consegue falar, e mostrar sinais de irritação, aproveitar para reforçar que dizer as palavras um pouco mais lentamente, em uníssono com o adulto, pode ajudar. Nesta hora, os adultos podem dizer o necessário com articulação ampla, velocidade controlada, brincando de falar em câmera lenta como na tv, ao reprisar lances de futebol, por exemplo. Terceiro, não desistir de ajudar, mas também não ajudar em excesso. Ajudar não é fazer pela criança. Descobrir o ponto de equilíbrio.
 
 
 
 j. O que fazer com os colegas ou irmãos que fazem chacota?
 
 
 
            Explicar claramente que humilhar as pessoas não é um comportamento adequado, que todos têm qualidades e dificuldades a serem superadas. Que as pessoas que gaguejam não o fazem por achar divertido ou engraçadinho, ou para chamar a atenção. Respeitar as diferenças individuais faz parte do viver em comunidade. Se os pais não conseguem resolver esta questão, o fonoaudiólogo deve solicitar uma entrevista com os irmãos ou professores para se chegar a um termo onde a criança que gagueja possa ser respeitada. E que ela também possa respeitar os outros nas suas dificuldades.
 
 
 
k. O que fazer quando a gagueira está pouco manejável?
 
 
 
            Sabemos que a gagueira é muito variável na sua manifestação. Nos momentos em que a frequência aumenta, proporcionar à criança situações onde a fluência possa aparecer como cantar, dizer falas automatizadas (dias da semana, números), brincar de falar no ritmo, fazer teatrinhos.
 
 
 
l. Orientação sobre as altas expectativas dos pais
 
 
 
            As condutas dos pais devem estar adequadas à idade da criança, ao seu nível de maturidade, às suas conquistas de fluência com a terapia. Pais devem observar seus níveis de exigências, e seguir as combinações feitas na hora de decidir os objetivos terapêuticos. Melhorar a gagueira não é uma tarefa que se realiza em poucos dias. Tolerância e colaboração são habilidades a desenvolver, sempre que necessário.

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